Teorias Psicopedagógicas sobre Aprendizagem

Unidade III - Módulo 2

Júlia Eugênia Gonçalves

Imagem Educação EAD

Boas Vindas:

Caro (a) Aluno (a),

Continuando o estudo das teorias de aprendizagem que influenciaram a psicopedagogia, vamos abordar neste módulo o construtivismo, numa perspectiva dos três autores que mais contribuíram para seu desenvolvimento: Piaget, Vygotsky e Wallon.


Apresentação:

Neste módulo vamos abordar o construtivismo e suas contribuições para a psicopedagogia, apresentando as ideias a respeito do desenvolvimento humano e do processo de aprendizagem nesta nova perspectiva. Veremos que o construtivismo é a teoria predominante no mundo atual, com repercussões significativas no campo da educação.


 

Tendências da Sociedade Contemporânea

O que se verifica nos tempos pós-modernosA partir do pós-guerra. é a superação das perspectivas inatistas e ambientalistas em termos das teorias da aprendizagem.

Propostas sócio construtivistas imperam a partir da década de setenta do século passado com as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon, os quais inauguram nova visão acerca das questões relacionadas com a aprendizagem humana. Estes autores, apesar de muitas vezes serem considerados antagônicos, podem ser analisados numa perspectiva de coautoria, trazendo um novo enfoque na psicologia.

DICA:

A perspectiva co-construtivista redimensiona os vínculos presentes entre as perspectivas construtivistas e sociogenética, preservando o papel central do sujeito ativo e subjetivo, que constrói seu próprio mundo psicológico em constante relação e confronto com o mundo psicológico dos outros e o meio externo em geral.

Imagem ProfessorNa abordagem co-construtivista são expostos dois modelos vinculados às ideias da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem:

  • O unidirecional, que considera o sujeito em processo de socialização como um ser passivo que recebe a informação e só pode aceita-la ou rejeitá-la, nunca transformá-la;
  • O bidirecional, que explica a transmissão cultural por meio de um fluxo constante de construções ativas das gerações anteriores, pertinentes ao processo de formação das novas gerações.

No modelo unidirecional impera uma modalidade de transmissão cultural centrada na emissão/recepção de mensagens, que sustentou as práticas pedagógicas tradicionais. A aprendizagem é compreendida de forma unilateral, a partir de um professor que ensina para um aluno que deve aprender. A informação é fixa e a forma de transmiti-la é unificada para toda a classe. Seja numa perspectiva inatista – tudo está definido pela natureza –, ou numa perspectiva ambientalista – tudo será definido pelo ambiente –, o desenvolvimento e a aprendizagem obedecem a uma direção que acontece unidirecionalmente e a cultura é vista como algo a ser apreendido e nunca recriado.

No modelo bidirecional, o processo de desenvolvimento e aprendizagem é entendido como um sistema aberto, no qual a novidade será sempre uma possibilidade esperada de maneira constante e vista de forma positiva. O modelo de transmissão cultural bidirecional assume que:

  • Todos os outros sociais, presentes no convívio diário do sujeito, participam do processo de transmissão cultural;
  • Todo participante de um processo de transmissão cultural é um participante ativo, o que o torna um modificador ativo da cultura;
  • Todo processo de transmissão cultural envolve, incondicionalmente, mudanças no sujeito (receptor), na mensagem (informação cultural) e no transmissor (agente cultural);
  • Toda mensagem carrega com ela um pouco das características de quem a passou e será recebida de acordo com as características do receptor.

Sendo assim, a aprendizagem se dá pela interação e a transmissão cultural não se dá apenas na escola, mas em toda a sociedade, gerando o conceito de “cidade educativa” proposto por Pierre FurterFilósofo francês. e exemplificado no diagrama:

Imagem Sociedade Educativa

O construtivismo se insere no modelo bidirecional da aprendizagem, como veremos a seguir.

O Construtivismo

Imagem PiagetOs autores construtivistas trazem à discussão aspectos progressistas e vão influenciar o pensamento pós-moderno sobre o desenvolvimento humano. Piaget foi dos primeiros a pensar de maneira diferente o conceito de inteligência e trouxe grandes contribuições para a compreensão atual do processo de aprendizagem.

Piaget compreende a inteligência como uma forma de os seres humanos se adaptarem à realidade num processo evolutivo que se organiza de forma progressiva em busca do equilíbrio com o ambiente externo. Para ele a ação humana advém de alguma necessidade que deve ser satisfeita, de algum problema a ser resolvido.

Ao agir o ser humano põe em jogo dois processos mentais:

  • Assimilação - o homem capta da realidade, com o auxílio de seus sentidos, as características que ela possui e estabelece relações com as informações armazenadas em seu cérebro;
  • Acomodação – o homem é capaz de utilizar o que assimilou em situações novas, apresentando um comportamento adequado e eficiente, adaptando-se às mudanças.

O diagrama abaixo exemplifica a concepção de aprendizagem segundo Piaget:

Imagem Diagrama segundo Piaget de Aprendizagem

Imagem Vygotsky

Vygotsky compreende a inteligência como o resultado de funções psicológicas superiores que o cérebro adquire, potencializadas no decorrer do desenvolvimento da espécie em função de sua organização social. Segundo esse autor a linguagem estruturada em signos teria sido o fator mais importante para o progresso da humanidade, na medida em que possibilitou a construção histórica. Sob este ponto de vista a interação social desenvolve a inteligência, a qual, por sua vez, é condição de evolução das sociedades.

Imagem Wallon

Wallon acrescenta que a inteligência humana é mobilizada para a ação de acordo com as emoções suscitadas pelos problemas a serem solucionados. Acredita que a emoção tem o poder de desenvolver ou atrasar o funcionamento cognitivo e que não é possível separar no homem os aspectos objetivos dos subjetivos.

Dentre estes três autores, Piaget foi aquele cujo pensamento mais interferiu na formação das novas visões sobre inteligência e aprendizagem. Num de seus últimos livros publicado, ele apresenta contribuições acerca dos processos de desenvolvimento do conhecimento humano, incluindo neles a dialética em sua tríplice dimensão:

  • Interiorizável (perspectiva do sujeito);
  • Exteriorizável (perspectiva do objeto);
  • Sintetizante (modelos).

A partir destes três enfoques, novos porque não destacam apenas aspectos de natureza orgânica, ganha contorno uma visão da inteligência humana que acabará por influenciar toda a concepção sobre a própria natureza do homem como um ser distinto dos demais animais, porque não nasce dotado de todas as habilidades e conhecimentos necessários à sua sobrevivência.

Um ser que precisa aprender a ser e a viver como os demais de sua espécie e que tem uma natureza cultural tão importante quanto à física; um ser que se constrói diariamente em face dos problemas que enfrenta, tendo sempre uma resposta diferente para oferecer; um ser que tem na capacidade de mudar, criar, inovar, a sua característica mais marcante.

NOTA:

Já vimos estes aspectos relacionados ao desenvolvimento humano na disciplina Educação e Sociedade, lembra-se caro (a) aluno (a)? Se for necessário volte a estudar aquele material.

Toma forma uma perspectiva inovadora para a educação, priorizando os processos de aprendizagem sobre os processos de transmissão cultural, seja num modelo unidirecional ou bidirecional, afastando-se de critérios de medição expressos por meio de dados quantitativos e adquirindo bases mais qualitativas, que são expressos por novas formas de ensinar e de avaliar.

Por isso é que se pode considerar Piaget como um dos pensadores mais importantes da visão construtivista e sua teoria acerca do desenvolvimento humano é utilizada pelos psicopedagogos nos procedimentos de análise diagnóstica e nos procedimentos de intervenção.

Síntese:

  • Desde a década de setenta as propostas sócio construtivistas imperam na psicologia da aprendizagem, com as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon;
  • Estes autores, apesar de muitas vezes serem considerados antagônicos, podem ser analisados numa perspectiva de coautoria;
  • Na abordagem co-construtivista são expostos dois modelos vinculados às ideias da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem: o unidirecional e o bidirecional;
  • O construtivismo se insere no modelo bidirecional da aprendizagem;
  • Cada um dos principais autores construtivistas compreendem a aprendizagem de uma maneira: para Piaget ela é fruto da ação; para Vygotsky é fruto da interação e para Wallon a emoção pode interferir positivamente ou negativamente na aprendizagem;
  • Piaget foi um dos pensadores mais importantes da visão construtivista e sua teoria acerca do desenvolvimento humano é utilizada pelos psicopedagogos nos procedimentos de análise diagnóstica e nos procedimentos de intervenção.

Leituras

  • CHIAROTTINO, Z. Em Busca do Sentido da Obra de Jean Piaget. São Paulo: Ática, 1994.
  • DEMO, P. Educação e Conhecimento: relação necessária, insuficiente e controversa. Petrópolis: Vozes, 2000.
  • FONSECA, V. Aprender a Aprender: a educabilidade cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
  • PIAGET, J. (1996). As Formas Elementares da Dialética. Coordenação Lino de Macedo. São Paulo: Casa do psicólogo (Coleção Lino de Macedo), 1996. _______. & INHELDER . A Psicologia da Criança. São Paulo: Bertrand Brasil, 1994.
  • ______. O Raciocínio na Criança. Rio de Janeiro: Record, 1967.
  • VASCONCELOS, V. & VERSIANI. Perspectiva Co-Construtivista na Psicologia e na Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

Conclusão

Neste módulo, caro (a) aluno(a), você pôde aprender como o construtivismo se tornou uma das tendências da sociedade atual porque suas ideias trouxeram novas perspectivas para a educação. Na próxima unidade vamos estudar outros autores inovadores na psicologia da aprendizagem e analisar de que maneira as teorias psicopedagógicas se nutrem de tais conhecimentos. Siga-me !