DPC – Diagnóstico e Intervenção na Clínica Psicopedagógica

Unidade V - Módulo 2

Júlia Eugênia Gonçalves

Imagem da disciplina

fonte: opousadeiro.blogspot.com

Boas Vindas:

Caro (a) Aluno (a),


Se a intervenção psicopedagógica pressupõe uma direção e um sentido, como vimos no módulo anterior desta unidade, vamos seguindo em frente neste rumo que nos leva à construção do conhecimento a respeito deste tema.


Apresentação:

Neste módulo daremos continuidade ao tema da intervenção psicopedagógica no que se refere à sua direção, abordando as técnicas que o psicopedagogo tem à sua disposição e terminaremos estudando o sentido que este trabalho interventivo possui.


Objetivo:

Esperamos que, ao término deste módulo, o alunos sejam capazes de:

Técnicas fazem parte da direção

Em relação às técnicas, em nossa opinião, elas também imprimem a direção da intervenção psicopedagógica, sendo mais diretivas ou mais informais, dependendo do caso. Podem ser baseadas na utilização de jogos e brinquedos estruturados e ou no uso de materiais inestruturados, tais como t sucata ou caixa de areia. Também podem incluir o psicodrama.

Os jogos são muito utilizados no trabalho psicopedagógico e devem conter, pelo menos, estas três características:

Sua aplicação, com maior ou menor intensidade, vai depender do sentido da intervenção, o que vamos analisar posteriormente.

Os jogos, por sua estrutura, representam situações em que se tem de enfrentar limites. Não somente os limites das regras neles implícitas, mas também nossos próprios limites, que devem ser superados para que possamos ter êxito. Sua variedade é muito ampla, permitindo uma abrangência de escolhas entre jogos individuais ou grupais, jogos cooperativos ou competitivos.

Aqueles mais usados pelos psicopedagogos, a título de exemplos, são os seguintes:

imagem jogos de memória

jogos de memória

imagem dominó

dominó

imagem loterias

loterias

imagem mosaicos

mosaicos

imagem mancala

mancala

imagem tangran

tangran

imagem torre de hanói

torre de hanói

imagem alinhavos

alinhavos

imagem dedoches e fantoches

dedoches e fantoches

imagem bonecos

bonecos

imagem encaixes

encaixes

imagem enfiagens

enfiagens

Os jogos de computador são uma opção à parte e não podem ser deixados de lado numa sociedade tecnológica como a de hoje, assim como não se pode abrir mão dos jogos tradicionais como bolinhas de gude, 05 Marias ou amarelinha. Cada um tem suas possibilidades no trabalho psicopedagógico, ligadas à construção de um cenário lúdico, de desafio, distinto da realidade escolar tão impregnada de vínculos negativos para a criança com dificuldades de aprendizagem.

imagem caixa de areia

A caixa de areia e as miniaturas são recursos de origem psicoterápica, que costumam ser utilizados por psicopedagogos. O trabalho geralmente é adaptado para o processo de aprendizagem. Teve sua origem na Inglaterra, com Margareth Lowenfeld, em 1935; no entanto, segundo Estelle Weinrib (WEINRLB, 1993), o próprio Jung deve ter sido o primeiro a envolver-se com esta terapia, em 1912. O material consiste numa caixa retangular rasa, com dimensões variáveis, e cheias até a metade de areia O fundo pode ser pintado de azul claro para facilitar a impressão de água: rio, lago ou mar. As miniaturas são objetos simbólicos do mundo real e imaginário, tais como:

Quanto maior for a variedade de espécies, mais rica será a construção na caixa de areia, ampliando a possibilidade de imaginação e criatividade.Todo o movimento realizado na caixa de areia é observado e considerado importante: como a criança se aproxima, olha, explora, manipula,escolhe, pega, cria. Observamos também a expressão, os sons e vozes - onomatopaicos, diálogos, imitações, gritos ou silêncio, o limite da caixa, a organização - seleção, distribuição, quantidade de miniaturas que o sujeito faz etc. Enfim, o seu envolvimento com a atividade. As construções realizadas podem ser registradas, ensejando produção de textos e outros trabalhos relacionados com a leitura/escrita.

NOTA:

Como a caixa de areia é uma técnica com forte impacto emocional o psicopedagogo, para deverá se preparar em curso específico para sua utilização.

A técnica do psicodrama aplicada ao trabalho psicopedagógico foi apresentada por Alícia Fernández em seu livro “Psicodrama em Psicopedagogia”. Ela não considera que o jogar/brincar seja competência apenas da criança, mas conduta humana que permanece durante a adolescência e a maturidade. Em sua opinião, o psicodrama possibilita:

A escolha de uma linha teórica e de técnicas específicas indica a direção da intervenção psicopedagógica, pois permite ao psicopedagogo a mobilidade necessária para atuar com sujeitos que estão em processo de mudança.

O sentido

Se o sentido é um conceito, como já dissemos, afim a um sistema de referência fixo e externo ao indivíduo, como poderíamos relaciona-lo com a intervenção psicopedagógica ? Em nossa opinião, isso é possível se pensarmos nos objetivos e finalidades implícitas no trabalho do psicopedagogo, em seu foco. Isto precisa estar muito bem definido para ele próprio e para o indivíduo com o qual atua. Se não houver consciência clara deste aspecto inerente ao seu trabalho, conflitos podem surgir na relação com outros profissionais.

A intervenção psicopedagógica só tem sentido se dirigida para o processo de aprendizagem, seja para potencializa-lo ou para corrigi-lo. Porém, é preciso pensar aonde se quer chegar, num âmbito ou no outro e isso vai depender de cada caso em particular. Sendo assim, o sentido de toda e qualquer intervenção precisa ser definido previamente pelo psicopedagogo: o que ele pretende? Qual é sua intenção com este ou aquele tipo de trabalho?

O trabalho psicopedagógico está sempre comprometido com a mudança, seja de comportamentos, atitudes, hábitos ou sentimentos. Desta maneira, seu objetivo é promover espaços para que a mudança ocorra e possa ser percebida pelo sujeito e ou o grupo. Sem esta compreensão, a práxis psicopedagógica carece de sentido e pode se tornar a repetição de práticas utilizadas por professores, como se fossem “aulas particulares”.

Já que aprender é função tanto cognitiva quanto afetiva, a intervenção psicopedagógica não pode se fixar num aspecto ou no outro, mas transitar de um lugar objetivo para um subjetivo, articulando inteligência e desejo, abrindo espaços transicionais, posicionando-se nas intersecções entre jogo e trabalho, de forma a cumprir seu objetivo maior, qual seja o resgate do prazer e da criatividade.

O sentido da intervenção é seu norte, ou seja, o objetivo para o qual se dirige. Precisa ser definido, pois é fundamental para o êxito do trabalho. Entretanto, isso não significa que seja imutável. Muitas vezes, o profissional necessita mudar o sentido que está imprimindo à intervenção em função de novas hipóteses de trabalho que se apresentam no decorrer das atividades, ou em função da reação obtida com a direção escolhida.

DICA:

Se o psicopedagogo não é capaz de mudar de sentido, está inapto para a tarefa psicopedagógica, pois esta é, essencialmente, dirigida para a promoção de mudanças.

O Tempo

“O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo,
Quanto tempo o tempo tem. “

imagem relógio

fonte: impotadosrelogios.blogspot.com

A preocupação com o tempo é uma constante em nossos dias, visto que vivemos numa época em que as mudanças se dão de forma muito acelerada. Tudo é muito rápido, como as comunicações, as transações bancárias, os transportes...

No campo dos conhecimentos científicos assistimos à substituição de conceitos antigos por novos, teorias são trocadas muito rapidamente porque se tornam obsoletas diante de novas descobertas, que, por sua vez, precipitam novas pesquisas e assim sucessivamente.

Nossa vida não fica imune a tais circunstâncias. As crianças estão perdendo a infância muito cedo; a adolescência parece querer prolongar-se numa tentativa de permanência, a maturidade tem que ser vivida em plenitude e a velhice evitada de todas as formas.

Em relação à aprendizagem, cada vez mais nos damos conta de que somos seres “aprendentes”, ou seja, só sobrevivemos porque aprendemos continuamente e podemos nos adaptar às novas situações que se apresentam diante de nós. A escolaridade tem começado desde as creches, e o ingresso no Ensino Básico foi antecipado para a idade de 06 anos.

Ao mesmo tempo em que tudo isto se dá, nos damos conta de que existe um universo significativo de sujeitos com dificuldades de aprendizagem! O fracasso escolar ainda é um fantasma que ronda lares e escolas. Apesar de progressos tão rápidos e mudanças tão significativas, ainda não conseguimos resolver problemas tão antigos!

Assim é o tempo! Fruto de uma ilusão, de um “movimento” imperceptível, foge sempre ao nosso controle. Pode ser medido, mas não pode ser quantificado ou qualificado por si só. Isto depende de nós. Se estivermos interessados e desfrutando das ações que realizamos, ele passa rapidamente; caso contrário, um minuto pode durar uma eternidade.

O mesmo ocorre no trabalho psicopedagógico. Muitas vezes, uma conversa, uma única intervenção, é suficiente para promover mudanças. Em outras situações, meses e anos de trabalho são necessários para transformações significativas. Por isso, não devemos, num sentimento de onipotência, tentar controlar o tempo. O melhor é deixar que ele transcorra, tomando cuidado para que as pressões externas , provenientes da família ou da escola não venham a comprometer nossa atuação.

A Psicopedagogia não pode depender exclusivamente de resultados! Eles virão, com certeza, quanto mais habilidade tiver o psicopedagogo para criar um espaço onde o “brincar” e o “aprender” aconteçam , quanto mais envolvidas no trabalho educativo estiverem a escola e a família e isto não pode ficar restrito a uma determinação de tempo.

Síntese: Neste módulo você aprendeu que:

Leituras

Conclusão

A mudança é componente inevitável da vida. Está presente em todos os reinos da natureza. Abrir espaços de mudança, promovendo a autonomia do sujeito em relação ao seu próprio processo de aprendizagem, desenvolvendo a meta-cognição, é a essência do trabalho psicopedagógico. Precisamos cuidar para que nossa categoria encontre seu rumo, que nosso trabalho tenha um sentido para a sociedade na qual vivemos e ajude a imprimir novas direções para a humanidade.

Por isso, para atuar na clínica, precisa desenvolver determinadas competências que são inerentes ao trabalho terapêutico:

A prática psicopedagógica clínica determina que o profissional se torne um terapeuta da aprendizagem. A seguir, relacionamos algumas características essenciais ao bom terapeuta: