DPC – Diagnóstico e Intervenção na Clínica Psicopedagógica

Unidade V - Módulo 1

Júlia Eugênia Gonçalves

Imagem da disciplina

fonte: opousadeiro.blogspot.com

Boas Vindas:

Caro (a) Aluno (a),


Concluída a etapa em que explicitamos os objetivos e ações relacionadas com a execução do diagnóstico no âmbito da clínica psicopedagógica vamos, daqui em diante, abordar as especificidades da intervenção, quando esta se faz necessária. Convidamos que você nos siga nesta experiência de ensinar e aprender a distância!


Apresentação:

Quando o diagnóstico conclui que há necessidade de tratamento psicopedagógico, o profissional precisa estar ciente das possibilidades de trabalho que se oferecem em sua especialidade, assim como das técnicas e materiais que possui ao seu dispor.


Este módulo trata deste assunto: como se dá a intervenção psicopedagógica? Quais são suas especificidades em relação às áreas afins? Qual é a direção e o sentido implementado na intervenção psicopedagógica?


Vamos aprender juntos?


Objetivos:

Esperamos que, ao término deste módulo, os alunos sejam capazes de:

Especificidades da intervenção psicopedagógica na clínica

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fonte: katrix.com.br

Como aprendizagem é capacidade desenvolvida por meio da mediação de outro ser humano, não pode ser concebido sem seu oposto, o ensino. Barbosa chama nossa atenção para este fato, quando questiona o parágrafo único do capítulo primeiro do Código de Ética elaborado pela ABPp- Associação Brasileira de Psicopedagogia, que você, caro aluo, já conhece.

CITAÇÃO:

“Em 1996, o Conselho Nacional e Nato da ABPp reuniu-se para reformular este Código de Ética...O parágrafo único diz o seguinte: “ A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem.”...Na nossa cultura, usamos o termo ensino com um significado específico que fala daquele que transmite conhecimentos, muito mais numa via de mão única do que numa relação de troca; e o termo aprendizagem como o estabelecimento de conexões que ocorrem dentro de um determinado indivíduo. Neste sentido, falarmos de Psicopedagogia como uma área que se preocupará sempre com a aprendizagem, desvinculando-a do ensino, com a preocupação de não invadir o campo de ação da Educação, parece inviabilizar a constituição da Psicopedagogia Institucional. Na instituição escola, convive-se com o ensinar e com o aprender de uma forma muito dinâmica, não sendo possível, na prática, haver uma intervenção que recaia somente sobre o aprender.” ( BARBOSA,2001. p.22,23)

A intervenção psicopedagógica é um movimento de um profissional que atua num espaço institucional ou clínico. Como tais espaços são distintos, o tipo de atuação também o é. Trataremos, neste módulo, apenas da intervenção no ambiente da clínica.

Já vimos que as pessoas que procuram a clínica psicopedagógica vêm em busca de um auxílio para algo que as incomodam. Isso é traduzido numa “queixa” que deve estar relacionada ao processo de aprendizagem para que pertença à área psicopedagógica.O trabalho psicopedagógico não nasce do desejo do psicopedagogo, mas da demanda do cliente quando este adquire consciência de uma necessidade relacionada com seu processo de ensino/ aprendizagem e configura uma “queixa”. Para que o psicopedagogo possa averiguar se pode ou não ajudar àquela pessoa, realiza o diagnóstico psicopedagógico, o qual foi descrito em todas as suas fases nas unidades anteriores. Quando termina os procedimentos diagnósticos deve concluir sobre a necessidade ou não da intervenção psicopedagógica. Chega então o momento de definirmos o que compreendemos por “intervenção”. Como a palavra indica, significa uma ação entre pessoas, uma mediação entre dois ou mais sujeitos que se estimulam reciprocamente, por força da interação a que estão submetidos.

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fonte: quartacadeia.blogspot.com

Analisando sob outro ângulo a palavra, podemos dividi-la em partes: inter – venção- invenção. Ora, isso nos indica que todo processo de intervenção é uma relação entre duas ou mais pessoas, mas que precisa conter também um pouco de invenção por parte do terapeuta, na medida em que precisa orientar seu trabalho de maneira criativa para cada ser humano, em sua singularidade.

O trabalho psicopedagógico é sempre da ordem da intervenção. Não é um ato solitário, mas solidário entre dois sistemas. Pressupõe um profissional que estrutura um sistema de ajuda para um sujeito ou um grupo que se configura como um sistema cliente. Sendo assim, a intervenção psicopedagógica é um movimento orientado para a conquista do equilíbrio do cliente e, por isso, podemos pensar em sua direção e em seu sentido.

O dicionário Houaiss esclarece que, no sentido lato, direção significa ato ou efeito de dirigir (se), conduzir, imprimir rumo. Portanto, está relacionada a um movimento corporal realizado por alguém. Quem se dirige vai a algum lugar, desloca-se no espaço para atingir um ponto determinado, um objetivo. Desta forma, direção é compatível com um sistema móvel, que implica em mudanças.

Eu posso estar me dirigindo para a direita e, por força de alguma circunstância, mudar meu rumo, dobrando para a esquerda; posso andar para frente ou retornar o caminho percorrido, voltando para trás. Direção está relacionada com a lateralidade, porque supõe um conhecimento a respeito da simetria presente no corpo humano, o que permite diferenciar um lado do outro. Por isso, dizemos que o coração está localizado do lado esquerdo, que somos destros ou canhestros, pois adquirimos, com a maturação neurológica, a capacidade de conservar estes conceitos, independentemente da posição em que estejamos.

imagem direção

Sentido, segundo o mesmo autor, significa cada uma das direções opostas em que algo pode se deslocar. Está relacionado a um sistema externo de orientação porque se situa fora do indivíduo, no ambiente. Por isso, refere-se aos pontos cardeais, que são locais fixos no globo terrestre: o norte está sempre no mesmo lugar, em oposição ao sul, assim como o leste em relação ao oeste. Num sistema fixo com este, conhecer um elemento permite encontrar os outros. Este é o mecanismo utilizado pela bússola, instrumento que permite escolher o sentido do deslocamento a partir de uma direção dada.

imagem bússola

fonte: quartacadeia.blogspot.com

Esta palavra pode adquirir também o significado de consciência das coisas, discernimento, ponto de vista, o que não deixa de estar relacionado com o primeiro significado. O sentido, sob o ponto de vista espacial, permite a localização das coisas e das pessoas em relação á realidade exterior, situa o indivíduo no mundo e, sob o ponto de vista de produção de significados, faz o mesmo.

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Se direção é um conceito relacionado com um sistema móvel, porém interno, pensar a direção da intervenção psicopedagógica compreende analisar sua especificidade e suas possibilidades.

Quanto ao primeiro aspecto, é preciso que fique clara a natureza da atuação psicopedagógica definida no Código de Ética, documento que expressa o consenso de determinada categoria profissional a respeito dos limites e possibilidades de seu trabalho.

NOTA:

Reiteramos que a intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do processo de aprendizagem humana, o qual jamais está dissociado de processos de ensino.

Como animais sociais, aprendemos sempre com nossos semelhantes. Os outros animais não precisam aprender porque possuem uma base instintiva muito grande e, quando o fazem, isso jamais ocorre com outros de sua mesma espécie: são adestrados pelos humanos e repetem sempre as mesmas ações, sem potencial criativo. Aprender é uma possibilidade inerente à espécie humana, que permite a criação da cultura.

Tratando a cultura em analogia aos sistemas de processamento da informação, Mosterín diz que o organismo humano possui dois sistemas desta natureza:

Este autor ressalta que o cérebro, além de processar a informação rapidamente, adquiriu a capacidade de comunicação com o advento daquilo que Piaget denomina função simbólica ou semióticaCapacidade de lidar com signos e símbolos., originando uma verdadeira rede de informações entre os seres humanos, que trocam entre si, continuamente, as informações que processam. Este processo apresenta duas facetas:

Cultura, então se caracteriza, de acordo com este filósofo espanhol, por uma conotação coletiva, aceita e vivida por um segmento significativo da sociedade e transmitida de geração a geração por processos de aprendizagem social.

Partindo deste ponto de vista, a intervenção psicopedagógica se reveste de crucial importância em nossos dias na medida em que se dirige para o desenvolvimento e potencialização de processos de aprendizagem, assim como se ocupa do atendimento às pessoas que porventura tenham dificuldades nesta área, o que justifica pensar em sua direção.

Qual seria ela, então? Em nossa maneira de pensar o tema, considerando que direção se refere a um sistema interno, porém móvel, que contém a possibilidade de mudança, a direção da intervenção psicopedagógica diz respeito às teorias, às técnicas e aos materiais utilizados pelo psicopedagogo em seu trabalho.

A Direção da intervenção Psicopedagógica na Clínica

As teorias psicopedagógicas já foram abordadas na disciplina Teorias Psicopedagógicas sobre Aprendizagem e sugerimos que sejam revistas por você. Tais teorias foram se estruturando e se constituindo pouco a pouco, construindo um campo de conhecimentos que se encontra, atualmente, em franco progresso teórico, em vários países. As referências à pesquisas e trabalhos práticos desenvolvidos nesta área chegam tanto de regiões europeias, tais como Portugal, Espanha e França, como de regiões americanas, tais como Estados Unidos, Argentina , Chile e Brasil.

A contribuição dos argentinos foi relevante para o progresso teórico da Psicopedagogia no Brasil e já ressaltamos na disciplina citada anteriormente os três autores mais importantes, cujos nomes e síntese teórica vamos aqui relembrar:

Além dos argentinos, não poderíamos deixar de registrar a contribuição de Reuven Feuerstein, de origem romena, radicado em Israel. Ele criou uma teoria sobre a possibilidade de recuperação das dificuldades de aprendizagem – Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural – e um Programa de desenvolvimento do potencial de aprendizagem, o PEI – Programa de Enriquecimento Instrumental - baseados na EAM - Experiência de aprendizagem Mediada – a partir das ideias de plasticidade cerebral, interação social e privação cultural. Seu Programa é muito utilizado por psicopedagogos que atuam tanto na instituição como na clínica, tendo aplicação na área empresarial e educacional.

imagem feuerstein

fonte: www.micromusiclaboratories.com

Para que você, caro aluno, tenha ideia da aplicação deste Programa no trabalho psicopedagógico, incluímos em anexo um texto de nossa autoria, apresentado no Congresso de Neuropsicologia e Aprendizagem, no ano de 2004 e publicado no Livro Temas Multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem citado na bibliografia deste módulo.

NOTA:

Para aplicar o PEI é imprescindível o curso de formação de mediadores do programa, que habilita o profissional para sua utilização.

A existência de tais correntes permite ao psicopedagogo escolher qual a direção teórica que vai imprimir ao seu trabalho, buscando formação específica em uma dela ou em mais de uma, a fim de ampliar suas possibilidades de escolha do rumo da intervenção.

Síntese: Neste módulo você aprendeu que:

Leituras

Conclusão

O psicopedagogo competente não pode prescindir de eleger uma direção e um sentido para sua proposta de trabalho, sob pena de se perder numa sucessão de tentativas de ensaio e erro. Definir estas questões é uma estratégia para a garantir o atendimento eficiente da demanda social. O profissional que tem clareza da intencionalidade de seu trabalho, que segue uma linha teórica coerente com seu estilo e com sua formação e que conhece diversas técnicas para utilizar de forma alternativa ou complementar, tem muito mais chances de conseguir sucesso.

Ao mesmo tempo, precisa ter a humildade para considerar o erro como parte integrante deste trajeto e identificar suas causas de forma a poder mudar de direção sempre que necessário, sem a sensação de que falhou, mas com a crença de que todo ser humano é capaz de aprender e melhorar seu potencial de aprendizagem.

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