Teorias Psicopedagógicas sobre Aprendizagem

Unidade IV - Módulo 1

Júlia Eugênia Gonçalves

Imagem Educação EAD

Boas Vindas:

Caro (a) Aluno (a),

Concluindo esta disciplina, vamos estudar as novas teorias a respeito da aprendizagem, que trouxeram para o campo da Psicopedagogia contribuições significativas. Esperamos que você aproveite bastante!


Apresentação:

Neste módulo vamos estudar as teorias mais recentes a respeito da aprendizagem humana e verificar como elas contribuem para os estudos psicopedagógicos. Veremos como elas surgiram a partir da visão construtivista abordada na unidade anterior e de que maneira concorrem para aprimorar a nossa visão a respeito do seu humano. Vamos adiante?


 

O desenvolvimento humano sob a ótica construtivista

Michel SérresFilósofo francês contemporâneo., criou um neologismo com o termo “hominescência” para designar um processo de desenvolvimento marcado pela continuidade, um fazer-se que não se conclui, que contém sempre um devir. Assim é o desenvolvimento da espécie humana. Esta visão é muito recente, surgida com a teoria construtivista e permeada de possibilidades que tentaremos, neste módulo, desvendar.

Piaget demonstra em suas obras que todo conhecimento é construído por intermédio de um processo contínuo de adaptação ao meio, que gera necessidades a serem supridas pela ação humana, conforme imagem a seguir:

Imagem Processo de Desenvolvimento segundo Piaget

Vygotsky, trabalhando com o conceito de zona de desenvolvimento proximal, demonstra a importância da integração social e da mediação linguística entre as pessoas para a promoção do desenvolvimento, conforme demonstra a imagem abaixo:

Imagem Zona de Desenvolvimento Proximal

A Psicopedagogia se identifica com as propostas destes autores porque considera o desenvolvimento como um contínuum que agrega valor à espécie pelas mudanças que provoca no ser humano, no ambiente que o cerca, nos instrumentos que produz e na cultura que cria, tornando-o um ser único e diferenciado dos demais entes da natureza.

DICA:

“A invenção dos primeiros instrumentos fez-nos sair da evolução para entrar na cultura“

Michel Sérres

Aspectos Filogenéticos do Desenvolvimento

Filogênese, do grego: phylon = tribo, raça, espécie e "gênesis" = origem, em latim - é o termo comumente utilizado para hipóteses de relações evolutivas (ou seja, relações filogenéticas) de um grupo de organismos, isto é, determinar as relações ancestrais entre espécies conhecidas (as que vivem e as extintas).

O processo de desenvolvimento de cada ser humano do século XXI é decorrente das possibilidades que a espécie humana conquistou durante sua trajetória desde as cavernas até as metrópoles.

A filogênese do desenvolvimento engloba os estudos relacionados aos caminhos que a espécie trilhou desde os hominídeos mais primitivos até o homo sapiens sapiens de hoje, como ilustra a imagem a seguir:

Imagem Evolução Humana

O que fica claro diante das pesquisas científicas é que o processo de desenvolvimento filogenético sempre acarreta mudanças fisiológicas e estas, por sua vez, trazem mudanças comportamentais. É mais uma vez Michel Sérres quem nos lembra que o homem quando ainda mantinha-se apoiado nos quatro membros, utilizava as mãos para a locomoção e a boca para as funções de alimentação e preensão. Com a mudança de postura, houve a liberação dos membros superiores : as mãos adquiriram a função de preensão , mas a boca ganhou a função da comunicação por meio da fala.

Outro aspecto importante a este respeito é o fato de que todas as conquistas do desenvolvimento filogenético Desenvolvimento da espécie. são genéricas, ou seja, alcançam a todos os indivíduos indistintamente e permanentes, isto é, não retroagem. Cada geração, por isso, traz em si todas as conquistas das gerações passadas e ainda agrega ao processo de desenvolvimento filogenético os avanços obtidos durante sua existência.

Exemplo:

As crianças de hoje têm muito mais facilidade em lidar com as tecnologias do que as gerações passadas. Cientistas comprovam que áreas do cérebro específicas para o manejo de botões, teclados e demais componentes da era digital estão em franco processo de desenvolvimento.

Pela filogênese os primatas humanos desenvolvem-se num nicho cognitivo e usam as suas capacidades únicas extensivamente em conexão com um cérebro que:

  • Improvisa comportamentos apropriados a qualquer situação;
  • Baseia o comportamento numa compreensão clara da complexa cadeia de causa-efeito;
  • Única espécie que criou um sistema de crenças;
  • Única espécie que apresenta uma empatia cognitiva;
  • Armazena grande quantidade de informações;
  • Habilitou cada indivíduo com um EU reflexivo, que tem consciência de si.

Aspectos Ontogenéticos do Desenvolvimento

Ontogênese é uma palavra composta por dois vocábulos: "ontos" = ser, em grego, + "gênesis" = origem, em latim. Significa, portanto, a origem do ser. Descreve a origem e o desenvolvimento de um organismo desde o ovo fertilizado até sua forma adulta.

O desenvolvimento ontogenético diz respeito ao processo individual vivido por cada ser humano, desde o seu nascimento até à morte. Vitor da Fonseca, o famoso psicomotricista português, em palestra proferida por ocasião do Simpósio Internacional de Psicopedagogia promovido pela ABPp- Associação Brasileira de Psicopedagogia – em 2008, lembrou uma frase de Ortega Y GassetFilósofo espanhol - 1883 - 1955:

“Todo ser humano é a instância de sua circunstância de vida”.


Isso significa que as pessoas possuem, todas elas, as capacidades e habilidades dadas pelo desenvolvimento filogenético da humanidade. Porém, cada uma delas em particular vai desenvolvê-las e transformá-las em competências de acordo com sua história de vida, as oportunidades que teve e aproveitou etc.

NOTA:

  • Capacidades são inatas e constitutivas. Se uma pessoa não tem nenhum problema físico que afete a locomoção é capaz de andar, por exemplo;
  • Habilidades são adquiridas. Se uma pessoa capaz de andar treina e desenvolve habilidades de corrida, pode até ganhar competições;
  • Competências são habilidades super desenvolvidas, reconhecidas pelas pessoas que fazem parte do convívio ou do círculo acadêmico da pessoa que as possui.

De acordo com a perspectiva construtivista da aquisição do conhecimento a ontogênese repete a filogênese. Piaget, o criador do Construtivismo citava Alain, o filósofo francês que assim se expressava a este respeito:

“Toda criança é um bárbaro”




Com esta frase ele queria dizer que toda criança recapitulava em sua vida os progressos e conquistas adquiridos pela humanidade em geral, tais como colocar-se de pé assumindo a postura ereta, andar e correr, desenvolver a função semióticaCapacidade de lidar com signos e símbolos e começar a falar, mais tarde aprender a ler e a escrever, etc...

Vítor da Fonseca mais uma vez traz uma frase que pode contribuir para nosso estudo. Desta vez, de sua própria autoria:

“Cada ser humano é uma história dentro de uma história”




Este autor acrescenta a este assunto que a dimensão cultural necessita da interação com outros humanos para ocorrer. A cultura é fruto de processos ontogenéticos coletivos, propiciada pela Educação, que ele define como o desenvolvimento das funções cognitivas superioresLinguagem, antecipação e evocação. Ele também distingue inteligência de cognição:

  • Inteligência: substrato biológico inato, fruto do desenvolvimento filogenético da humanidade. Foi sendo aprimorada paulatinamente com as mudanças fisiológicas sofridas pelo cérebro em evolução, que adquire zonas cada vez mais específicas para o desempenho de funções diversificadas.
  • Cognição: substrato social adquirida. Fruto da estimulação social e interpessoal, desenvolvida pela mediação entre os seres humanos. Composta por funções cognitivas que se desenvolvem no processo de ontogênese humana. A cognição é potencializada pela mediação e tem grande poder de modificabilidade.

Segundo este autor a evolução da humanidade, em termos cognitivos, se expressa pela criação de instrumentos materiaisQue nada mais são do que extensões do corpo., instrumentos cognitivos, imagens mentais e funções executivas que se tornam cada vez mais especializadas com o avanço tecnológico.

Para ampliar sua visão a respeito do desenvolvimento ontogenético humano sob o ponto de vista construtivista, reserve um pouco de seu tempo, caro(a) aluno(a) e leia o texto em anexo , disponíveis em nosso espaço virtual:

“Justo a Mim me Coube ser EU”, de Dulce Critelli e “A Gestação Humana”, de João Batista Freire.




Síntese:

  • A perspectiva construtivista do desenvolvimento humano analisa o indivíduo sob aspectos filogenéticos e ontogenéticos;
  • O processo de desenvolvimento filogenético sempre acarreta mudanças fisiológicas e estas, por sua vez, trazem mudanças comportamentais;
  • O desenvolvimento ontogenético diz respeito ao processo individual vivido por cada ser humano, desde o seu nascimento até à morte;
  • De acordo com a perspectiva construtivista da aquisição do conhecimento a ontogênese repete a filogênese;

Leituras

  • DESSEN, Maria Auxiliadora e JUNIOR, Áderson Luiz Costa. A Ciência do Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artes Médicas, 2005.
  • MOSQUERA, J. Psicodinâmica do Aprender- Porto Alegre, Sulina, 1984.
  • PORTELLA, Fabiani Ortiz e BRIDI, Fabiane Romano de Souza. Aprendizagem: tempos e espaços do aprender.Rio de Janeiro, Wak, 2008.
  • SENGE, Peter. Escolas que Aprendem: um guia da Quinta Disciplina para educadores, pais e todos que se interessam por Educação. Porto Alegre, Artes Médicas,2005.
  • SERRES,Michel. Hominescências, o começo de uma nova humanidade. São Paulo, Bertrand Brasil,2003.

Conclusão

Neste módulo, caro (a) aluno (a), você aprendeu que o desenvolvimento humano ocorre em dois âmbitos: filogenético – de toda a espécie humana – e ontogenético- restrito a cada ser em particular. Verificou ainda que a evolução da vida no planeta diferencia-se nos humanos em função da evolução cerebral mais lenta e, portanto, mais complexa do que os demais, o que lhes permitiu aprender.

No próximo módulo desta unidade, o último da disciplina, veremos como estas teorias influenciaram o campo de estudos da Psicopedagogia. Vamos lá?

Módulo 2